E aí, como foram de feriado? Preparados para semanas e semanas de trabalho árduo? Para comemorar mais esta pausa no ostracismo do país (que só durará até junho, com o Corpus Christ), vamos hoje começar uma série de entrevistas. A primeira é com um editor cheio de trabalho e ideias, grande amigo meu, e que dedicou um pouco do seu tempo a responder genialmente as perguntas que lhe fiz. Todos temos muito a aprender com ele, e você irá se surpreender com o que ele tem a dizer.
Hoje conversaremos com um dos mais jovens editores brasileiros, à frente da maior editora especializada em Design do país, a 2AB Editora. Vítor Barreto começou com a Novas Ideias, que depois de alguns anos teve uma fusão com a 2AB. Conte pra nós, Vítor, como foi essa história.
Ao criar a Novas Ideias, em 2005 eu já tinha trabalhado na própria 2AB e na editora Record. Trabalhar tanto em uma pequena editora como em uma gigante me permitiram entender dinâmicas diferentes de mercado e pude me direcionar bem quando virei empreendedor. Dois anos depois (em 2007), tive a oportunidade de comprar a 2AB Editora e, com isso, dar passos maiores, que começaram a se refletir em 2010, após 3 longos anos de reestruturação.
Hoje, a Novas Ideias é um selo da 2AB Editora. Enquanto a 2AB continua muito bem focada no mercado de Design, a Novas Ideias tem uma maior liberdade editorial. Qual as vantagens e desafios deste modelo de negócio?
Para a 2AB, a maior vantagem é ser bem entendida pelo público. Nossa proposta é muito clara e nosso trabalho (como você pontua mais à frente) nos tornam um importante elemento no universo do design, não só no meio editorial, mas no mercado profissional e acadêmico também, ao levarmos a público informações relevantes e registros importantes da nossa área. Como em qualquer atuação de nicho, nosso desafio se dá sempre que há novos concorrentes, mudanças no mercado etc. Transpomos esses desafios nos mantendo fiéis à nossa proposta, à nossa missão e à nossa visão, que tem ganhado reconhecimento e nos incentivado a crescer no mesmo caminho, com seriedade, profissionalismo e inovação.
Na Novas Ideias o desafio é outro; a dinâmica é bem diferente, como apontarei na próxima pergunta. Mas por outro lado, conseguimos alcançar um público diferente e com isso novas oportunidades.
Este mês, faz um ano que o contrato do "Todas as estrelas do céu" foi assinado, que, como sabemos, foi a primeira ficção publicada pela editora. Como está sendo esta experiência?
A experiência foi incrível. Além de ter sido nosso primeiro livro de ficção, o “Todas” nos permitiu participar e fomentar uma discussão muito interessante sobre o mercado editorial, as práticas vigentes e os desafios constantes. Seu movimento com outros novos autores foi uma grande ideia e está muito alinhada com a proposta da 2AB/Novas Ideias de publicar autores brasileiros e de estimular nossa produção.
Já enfrentávamos desafios específicos na área de atuação da 2AB (o design) e, com o Todas, descobrimos novos desafios.
Enquanto no universo de livros de design, sempre há demanda por determinadas sub-áreas e informações específicas (por causa das práticas profissionais, mercado e necessidades acadêmicas), na ficção isso não ocorre.
Os maiores agentes de fomento são as redes sociais, o boca a boca e a imprensa. Esse último agente, entretanto é sedento por novidades. Um mês já torna qualquer assunto “velho”. É por isso que há editoras lançando 1 livro por dia! Por outro lado, temos muita sorte ao contar com um autor parceiro e engajado. Sua atuação juntos aos leitores e o feedback que recebemos diariamente demonstram a qualidade e o potencial do Todas e esse trabalho é que faz toda a diferença.
A 2AB é conhecida pelo trato muito cuidadoso com seus produtos e com seus clientes, com diferenciais que vão do atendimento à embalagem. Como a sua formação acadêmica se reflete nisso?
Sou designer. O design me ensinou a pensar em tudo o que faço como parte de um processo. No caso da 2AB, poderíamos chamar isso de branding. Temos trabalhado nossa marca de diversas maneiras, mas sempre pensando no longo processo de relacionamento que queremos criar com os leitores e com as comunidades editorial, acadêmica, profissional etc. O design também me ensinou a estudar os processos e verificar pontos que precisam de análises mais cuidadosas. Na prática, criamos novas maneiras de fazer o trivial.
Por exemplo: sou um comprador assíduo na internet. No entanto, foram pouquíssimas as vezes em que me surpreendi ao comprar em um site. Acesso, escolho o produto, pago, recebo confirmação por e-mail, espero, recebo o produto e ponto final. É a internet como uma mega vending machine (como máquinas de refrigerante). Na 2AB, queremos criar um relacionamento mais humano. Seja transmitindo nossa paixão em fazer livros com belos projetos gráficos (como o Todas) seja adornando as embalagens para tirar um sorriso do cliente quando ele chegar em casa e ver seu pacote com o livro que comprou no site.
Com olhar de editor, como você vê o futuro do mercado editorial brasileiro frente às novas tecnologias e mídias, e qual o papel da literatura nacional versus literatura estrangeira dentro deste contexto?
A discussão do livro digital vem tomando conta das pautas. Ainda não definimos a postura que adotaremos, mas tenho certeza que nosso catálogo e o relacionamento que temos com nossos clientes, leitores e autores será uma grande arma na nova dinâmica que se inicia. A proximidade do autor com o leitor (novamente, como acontece com o Todas), nosso bom relacionamento com os clientes e nosso portfólio de autores brasileiros certamente nos deixam mais preparados.
A tendência, acredito, é que as editoras passem a contar com seu real produto, o conteúdo (em vez do objeto livro). Exemplo: podemos lançar o Três Céus em português, inglês e espanhol simultaneamente, sem precisar de outras editoras para fazerem a tradução, negociação de direitos etc. Isso deve acontecer com todas as editoras que tem autores conterrâneos com livros de grande potencial.
De todo modo, assim como aconteceu com o CD, o livro impresso não vai sumir. O design (olha ele aí) irá se tornar ainda mais importante, pois sempre teremos mercado para os amantes desse formato. Eu gosto de comprar músicas online, mas minhas bandas favoritas tem espaço garantido na minha prateleira, onde guardo os CDs, com suas belas capas, encartes. Os objetos (cd e livro, por exemplo) não servirão apenas para transmitir seu conteúdo, já disponível digitalmente, mas como uma maneira de expressar sua personalidade. Quem nunca visitou alguém e foi logo olhar sua prateleira de CDs, DVDs e livros tentando “ler” o que ela diz? Serão objetos para os apaixonados. Quem vai dizer que não é um mercado legal de se trabalhar?
Quais os projetos em que a 2AB Editora está trabalhando atualmente, e quais serão os próximos lançamentos?
Atualmente estamos trabalhando em lançamentos na área do design, para a 2AB Editora. Este ano temos um livro de Naming (de Delano Rodrigues), auto-promoção para freelancers (do Bruno Porto), um livro novo do Gilberto Strunck (sobre compras por impulso) e eu estou organizando um livro sobre marcas de editoras, que sai no segundo semestre.
Além dos livros, a 2AB ampliará sua área de atuação esse ano, com um novo negócio, mas ainda não posso dar detalhes (ahhhh....)
Para finalizar, que recado você gostaria de deixar para leitores, autores e pessoas que pensem em trabalhar no mercado editorial?
Uma vez, durante uma especialização ouvi um profissional dizer que quem entra no mercado editorial não sai. Fica gamado.
É verdade. Sou apaixonado pelo que faço. Adoro ver como outras editoras trabalham, como são os livros que estão sendo publicados e até os desafios são bons de lidar (apesar de me tirarem algumas noites de sono).
Se tivesse que dar uma dica seria trabalhe com paixão. Um bom exemplo é você, Enderson. Você é apaixonado e isso se reflete no sucesso que o “Todas as Estrelas do Céu” está fazendo e ainda vai fazer.
Gostou? Você pode comentar abaixo o que achou! Se quiser saber mais da 2AB Editora e de seu selo Novas Ideias, visite http://www.2ab.com.br e siga o twitter @2ABEditora, ou visite o blog www.rede2ab.com.br/blog Se quiser falar diretamente com o Vítor, siga @vitbarreto
Um abraço a todos e muito obrigado, Vítor, pela entrevista!
Enderson, ameeei a entrevista tanto como leitora, como quanto autora. É mtoo legal ver uma editora apostar no novo talento brasileiro, louvável, e a qualidade desta editora é inquestionável - como ele falou, em termos de edição, embalagem, entrega, etc. E eu NUNCA, nunca vou esquecer da SUA dedicatória no meu livro: " O primeiro Todas de Recife vai para você Rafa... (...)". Eu qdmiro sua interação e seu carinho com os leitores, Enderson, e isso faz toda a diferença. Eu quero ser como você quando eu publicar meu livro!!!
ResponderExcluirUm Beijo
Rafa