segunda-feira, abril 04, 2011

Paper Towns, muito além da Orlando que conhecemos.















“She was so beautiful that even her fake smiles were convincing”/”Ela era tão Linda que até seus sorrisos de mentira eram convicentes.”

Foram poucos os autores do quais li mais que um livro. Em inglês mesmo, John Green conseguiu uma proeza, pois antes dele, nunca tinha conseguido terminar nenhum. E claro, após você ler o primeiro livro de um autor, em especial alguém que, como Green, estreou com o excelente “Looking for Alaska”(lançado recentemente em português com o título “Quem é você, Alasca?”), é comum que criemos expectativas, e mais comum ainda que estas expectativas sejam frustradas. Sinto isso com meus próprios livros. Quando ninguém conhecia o “Todas as estrelas do céu”, cada um que o lia, em geral, tinha uma surpresa imensa, e tendia a avaliá-lo melhor do que hoje, que boa parte das pessoas já começa a lê-lo esperando muito, sem dizer de “Três Céus”, meu próximo e ainda inédito romance. E assim como eu – na verdade, bem mais que eu – John Green também é vítima do próprio sucesso neste quesito.

Você comeá com o tempo a encontrar seus vícios. De alguns, você gosta. Outros, nem tanto. E isso vai do gosto do leitor: eu odeio quando ele enumera as coisas, tem gente que adora. No geral, Green também é previsível na base de seus personagens: Quentin não é tão diferente assim dos protagonistas de “Alaska” e “Katherines”. Sempre há, também, uma – ou mais – Alaska. Em “Paper Towns”, Margo faz esse papel. Sempre tem um carro com apelido, às vezes mais de um. Sempre tem a escola, sempre tem a estrada. John Green pode parecer, à primeira vista, repetitivo. Mas o que ele mais repete, é algo louvável: suas tramas de grande engenhosidade. Grande mesmo, ao ponto de nos perguntarmos como ele não se perde e principalmente, de onde ele tira tudo isso.

Em “Paper Town”, John Green volta a narra em primeira pessoa, o que lhe dá uma liberdade incrível para filosofar, e soltar muitas e muitas frases geniais, daquelas que todos nós ficamos morrendo de inveja por não termos pensando antes dele. Quando cita outros autores, e desde “Alaska” ele o faz bastante, também escolhe muito bem a maneira de fazê-lo e que frases colocar. Em “Paper Towns”, apesar do extenso e profundo poema de Whitman que permeia todo o livro, uma de Emily Dickinson chama a atenção: “Forever is composed of nows”, algo até difícil de traduzir precisamente.

Em “Paper Towns”, John Green sai da racionalidade de “An Abundance of Katherines” e volta à paixão cega de “Looking for Alaska”. Nosso protagonista, mais uma vez o nerd – Q. Jacobsen – tem uma paixão avassaladora por uma vizinha de toda a vida. Ela se tornou a menina mais popular do colégio, ele, o contrário. Mas existem bem mais coisas que os distanciam, e muitas outras que os aproximam. Numa investigação impressionante e bem arquitetada pelo autor, Quentin parte em busca de Margo Spiegelman, a menina mais popular do colégio que desaparece semanas antes da formatura. É o livro mais subjetivo de Green até agora, e sua maneira detalhada e ao mesmo tempo relaxada de construir cenários e diálogos é, como sempre, muito envolvente.

Eu, um autor e leitor vidrado em cenários, me identifiquei com “Paper Towns” ainda mais do que com os outros livros de John Green: a história se passa quase toda na cidade onde ele cresceu, Orlando, Florida. A cidade que recebe meio milhão de brasileiros por ano – inclusive eu, que já estive quatro vezes lá, uma a passeio – mostra neste livro a face que nós, visitantes, pouco vemos: a vida dos americanos que moram em Orlando. Vez por outra, nossos destinos se cruzam. A Interstate I-4, ou a International Drive, vias pelas quais qualquer um que tenha alugado um carro lá já dirigiu, tornou a história muito mais próxima de nós. Descobri, abismado, que uma certa cena se passa no mesmo Seven-Eleven em que eu tomei café da manhã na semana que passei lá, nas férias de 2010. Mais uma vez, John Green constrói uma ficção totalmente plausível, cheia de lições naturais e despretenciosas, como todo YA book deve ser, e que vale muito à pena ser lido. O porquê do título “Paper Towns” eu não posso contar, pois estaria dando spoiler, mas eu prometo que é tão interessante quanto o porquê do nome de “Alaska” ou das cenas na caverna de “Katherines”. É impossível ler um livro de John Green sem descobrir algo genuinamente made of awesome!

Este é o terceiro livro de John Green que leio, e a contar pelo que achei dele e dos dois anteriores, eu com certeza comprarei o próximo, “The Sequel”, que deve sair em 2011. E você, vai resistir?

Uma outra resenha excelente que achei na web:-) http://www.flutteringbutterflies.com/2010/09/review-paper-towns-by-john-green.html

6 comentários:

  1. Muito boa sua resenha. Enderson, depois de ler esse seu texto, deu vontade de escrever. Escrever alguma coisa. Sei lá.
    Me sinto inspirado.
    Valeu.

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  2. Olá,estou entrando em contato pois gostaria de fazer parceira com você,meu blog literário está no começo,estou fazendo todo o possível para conseguir melhora-lo,espero contar com você.
    Desde já muito obrigada.

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  3. Olá Enderson, tudo bem?
    Respondi teu comentário no meu blog e resolvi dar uma olhada no teu trabalho! Mas já vi que tenho que passar com muita calma depois, pois parece ser mesmo muito interessante!
    Então prometo a nova visita em breve! Obrigado pela força, grande abraço e boa semana!
    Michel
    www.rodandopelomundo.com

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  4. Sou apaixonada por Green, conheci o autor por acaso, e quando li Looking For Alaska fiquei louca com a sensibilidade dele e a forma como ele escreve, é incrível!
    Ainda não li os outros por falta de tempo, mas esta ai um autor que eu farei questão de ter todos os livros sempre.
    Adorei a resenha.

    www.after17.anybear.com.br

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  5. Ahhah
    eu nunca li nada do Green, mas o que está em primeiro na minha lista é o Katherines... Depois tb o Alaska e o Paper nunca tinha parado para ler algo a respeito!
    Achei interessante isso que vc comentou sobre os vicios, acho que os escritores acabam caindo nisso mesmo, além de tudo é mt valido notar que ele não escreve livro em serie então isso fica mais evidente!
    É até estranho pensar num autor que não escreve uma continuação..
    Enfim, depois que eu ler esses dois vou querer conferir Paper tb!

    bjss

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  6. Muito interessante, estou louca para ler mais coisas desse autor, já que você indicou vou procurar este para comprar. Mesmo que eu faço um esforço tremendo com meu inglês super fraco, irei ler. Qualquer esforço não é nada para ler um livro de alguém que escreveu o brilhante 'Looking for Alaska'.

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