quarta-feira, março 23, 2011

O BRASIL NÃO REAGE, MAS ACABA BALEADO.

Este é um post que estava escrito já desde a semana passada. Mandei para alguns veículos, mas nenhum se interessou. Espero que sirva para percebermos o absurdo da situação em que nos encontramos. Buscando a imagem com a palavra "tiro" no Google Images, você terá uma desagradável surpresa.






Mais uma morte estúpida. Um estudante de Comunicação Social da ESPM na Vila Mariana. Podia ter sido eu, uma década atrás, quando eu levava este título. Porém, tive sorte até aqui, mas até quando? Houve um tempo em que bastava não reagir, e nada lhe acontecia. A regra valiosa num país que nunca foi muito ortodoxo em seus índices de violência, agora parece ter caído por terra. Mesmo sem reação da vítima, assaltantes desferem tiros como quem se desfaz de um chiclete grudado na sola do sapato. Na verdade, em geral é até com mais desenvoltura que isso.

Seus governantes, caro paulistano, festejam a queda de 85% no número de homicídios na cidade em uma década. A média de São Paulo anda pouco acima dos 14 assassinatos para cada 100 mil habitantes por ano. Isso é bem abaixo da média nacional, mantida lá pelos 24,5. O Rio de Janeiro, que sustenta nada invejáveis 31 homicídios para cada 100 mil habitantes, até contribui, mas as capitais do nordeste e do norte, com índices comparáveis a países em guerra é que puxam o índice pra cima. Maceió inclusive ganha do Iraque. E aí, se sentiu mais seguro agora?

Se alguma coisa está sendo feita, pouco conseguimos notar. A facilidade da informação faz tudo parecer pior, e a banalização insuportável da violência a terceiros, em latrocínios principalmente, não aponta nenhuma esperança no futuro próximo. A resposta talvez esteja no passado. Portugal é o país onde mais se mata na Europa Ocidental, com uma taxa de 2,15 homicídios para cada 100mil habitantes. Se a lição veio mesmo da terrinha, fomos bastante talentosos para conseguirmos multiplicá-la por doze. Mas nos comparar a Portugal não ajuda. Os Estados Unidos, vistos pelo brasileiro médio como um lugar onde lunáticos dão tiros em escolas e lugares públicos, registra uma taxa que é um quarto da nossa. Que tal então nossos vizinhos? A América Latina é um lugar violentíssimo, e aí entendemos que poderia ser pior. Dentre as dezenas de países da AL, cinco nos passaram recentemente, e o campeão do momento neste ranking bizarro é a Venezuela, mas nos ganha com pouca vantagem e a explicação pode ser sazonal. E mesmo que não fosse, esses números são proporcionais, o que exclui a diferença populacional entre os países. Assim sendo, talvez tenhamos algo a aprender com o Chile. O país sustenta uma taxa ainda mais baixa que a portuguesa, entre Canadá e pásmem, Israel. Poderia ser pior. Como eu já disse, El Salvador, Colômbia, Guatemala, Ilhas Virgens Americanas e Venezuela nos venceram no ranking mundial de proporcionalidade. Mas caros bandidos impunes e orgulhosos de seus feitos, caras autoridades que comandam o voo de galinha tupiniquim, nosso lugar neste pódio repudiável está garantido, em número absolutos, somos os campeões: em 2007, foram mais de 47 mil assassinatos. Em nenhum outro lugar do planeta se mata tanto. E como temos constatado, tão banalmente. Dizem que não se deve nunca reagir frente a bandidos armados, e os números revelam que temos feito exatamente isso.

Enderson Rafael é escritor

Um comentário:

  1. Enderson, se hoje está assim tenho até medo de imaginar daqui a 10 anos, estamos sendo refêns das nossas casas, presos entre grades enquanto os bandidos, assassinos andam soltos por ai, esperando apenas que vc se descuide, e as vezes nem precisa se descuidar, ele te acha, ele anda livre mesmo não é?!
    Por um simples tênis se mata hoje, se reagir morre, senão reage morre do mesmo jeito, e o Brasil não faz nada. Quantas vidas ceifadas a esmo todo dia, quanta tristeza nos lares dos pobres.

    Outro dia vi uma reportagem sobre construções em outros planetas, tornando assim mais fácil visitá-los, por que não criar então presídios em marte? assim fugir ia ser bem mais complicado não é?
    Brincadeiras a parte, adorei seu texto!

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