sábado, junho 11, 2011

Nevoeiros [vs] Aviões















No link abaixo, um Airbus A320 pousa nos mínimos em Guarulhos, pelo ILS Cat 2, o mais preciso disponível no Brasil. Parece mágica, mas é tecnologia. E existem sistemas ainda mais precisos que este.

http://www.youtube.com/watch?v=sRonIfEJKmo&feature=related

Ao contrário das cinzas, o que enrolou a aviação hoje de manhã foi o nevoeiro em boa parte do país. E ao contrário das cinzas, este problema seria perfeitamente contornável e só em países bem atrasados, aeroportos importantes fecham por nevoeiro.

Quando vemos aquela massa espessa e branca, pode parecer que ela é intransponível, mas não é. Existem vários sistemas eletrônicos que permitem à aviação continuar funcionando em meio à chuva, à escuridão, ao nevoeiro. Sistemas de precisão permitem até que uma aeronave pouse sozinha, sem a intervenção direta dos pilotos, que nestes casos atuam como programadores do avião, supervisionando cada etapa do processo eletrônico que leva a um pouso seguro e preciso. Nestes casos, mesmo com visibilidade zero, é possível aterrissar.

Acima, vimos o vídeo de um pouso automático em Guarulhos com visibilidade próxima de zero, no que chamamos em aviação de “mínimos”, ou seja, os tetos e visibilidades horizontais mínimos em que podem ser executados pousos segundo as especificações da pista, da aeronave e da tripulação. Mas é possível pousar com menos visibilidade ainda. Mas isto necessita de investimentos vindos tanto da infraestrutura aeroportuária quanto, em seguida, das empresas aéreas. Os aeroportos deve dispor da tecnologia, e os aviões estarem homologados e com suas tripulações treinadas para operar nestas condições.

Com investimentos bastante plausíveis, o Brasil poderia reduzir as interrupções de tráfego em aeroportos como Galeão/Tom, Jobim, Guarulhos, Afonso Pena e Salgado Filho de forma considerável, ao ponto de quase não acontecerem mais. Porém, sucessivos governos e administrações da Infraero julgam que o transtorno causado por estas interrupções é muito pequeno para valer o investimento, e por conta disso, as empresas também acabam não se esforçando tanto, uma vez que equipariam aeronaves e tripulações à toa. De qualquer forma, as maiores empresas brasileiras e estrangeiras já têm tripulações treinadas e aeronaves preparadas para utilizar sistemas mais precisos do que os disponibilizados pelos principais aeroportos do nosso país.

Congonhas e Santos Dumont, por particularidades diversas, não comportam versões mais precisas de instrumentos do que as que já têm, mas os demais aeroportos brasileiros fecham tantas vezes todos os outonos por falta de vontade política, acima de tudo. Uma pena para nós, operadores e usuários de uma das mais relevantes e crescentes frotas do mundo.


Enderson Rafael é comissário de voo e escritor, autor do romance inédito "Três Céus", que tem como pano de fundo a aviação brasileira.

3 comentários:

  1. Apesar de trabalhar com tecnologia e saber que é possível e seguro pousar nessas condições, eu ficaria desesperada se estivesse dentro do avião.

    Quanto aos investimentos, bom, esse não é o único caso em que perdemos por falta de vontade política de melhorar, infelizmente :(

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  2. Bom, Cíntia, desesperados mesmo ficam os passageiros que perdem seus voos! Nós já voamos totalmente dependentes da tecnologia: acertamos pistas de 2mil por 45m que estão a milhares de quilômetros de distância, voando o tempo todo guiados por GPS, inercial e outros sistemas baseados no espaço, na aeronave e em terra. O ILS - Instrument Landing System - é algo com meio século de vida já, muito seguro, e que em breve receberá concorrentes à altura. Muitos aeroportos no mundo os utilizam, incluindo o CAT 3, o mais preciso de todos, e ausente no Brasil.

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  3. Pessoalmente, não me sinto confortável em voar de Airbus operando só por instrumentos, mas o problema é específico com alguns equipamentos.
    As companhias aéreas deviam exigir melhores condições nos aeroportos já que os atrasos penalizam diretamente estas empresas.
    E a população devia aproveitar as oportunidades de opinar no novo modelo de concessão aeroportuária.
    Nunca tive problema com ponte aérea por conta do mau tempo, mas sei que é complicado perder compromissos por isso.

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