Brasil é convidado de honra em Bogotá. Mas quem foi?

Mas quem foi?! E quem não foi?

O Brasil é o país homenageado da Feira do Livro de Bogotá deste ano. Isso é muito bom, é excelente, num momento em que tentamos, após virar a maré dentro de casa, ganhar o mundo enquanto literatura.

Organizada pela Câmara Brasileira do Livro, a invasão brasileira na FILBO tem um dado curioso: dos cem artistas convidados para ocupar o imenso pavilhão dedicado ao Brasil, menos da metade é de escritores. Grandes nomes estão entre os que foram: Nelida Piñon e o grande ativista da exportação da literatura brasileira Affonso Romano de Sant'anna, por exemplo. Fora eles, nomes bem apagados, que não vou citar pra não me indispor, mas que parecem ter satisfeito ao critério "BBB" de escolha dos convidados: afinidade. Afinal, best-sellers conhecidos nossos não foram chamados, mas autores que embora contem com grandes editoras e têm tido desempenho pífio apesar disso, estarão lá em Bogotá por nossa conta.

Enfim, mais uma vez o mercado editorial brasileiro se revela em três frentes: os que vendem muito, os que ganham prêmios e aparecem na mídia, e nós (que vendemos bem pro nosso poder de fogo, somos conhecidos na internet e até aparecemos na mídia de vez em quando e até ganhamos prêmios, mas sobramos no bookset).

Poucos são os autores que transitam entre duas das três ou principalmente entre as três esferas. Escrevo há 13 anos. Publico há 7. Tenho, com tantos outros autores, feito um trabalho maravilhoso junto aos leitores jovens. Mas infelizmente, a CBL desconhece o Skoob, a blogsfera literária, os movimentos pela valorização da literatura, a nossa vontade e competência para ganhar mercados aqui e lá fora. Espero, sinceramente, que o modelo da participação brasileira em Bogotá não seja o primeiro capítulo de um livro que tem a Feira de Frankfurt de 2013 como protagonista. Se for, Bologna 2014 ficará pra epitáfio e os mocinhos morrerão no final.

Enderson Rafael é escritor, autor dos romances "Todas as estrelas do céu"(Novas Ideias, 2010), "Três Céus"(Gutenberg, 2012), entre outras obras e pleiteou uma vaga na comissão brasileira em Bogotá junto à FBN e à CBL, mas sobrou.