sábado, maio 05, 2012
Promoção de casa nova!
quarta-feira, abril 11, 2012
Brasil é convidado de honra em Bogotá. Mas quem foi?
domingo, abril 01, 2012
Os livros e as Malvinas
Semana passada estive em Buenos Aires. Foi uma despedida honesta mas discreta: longa conversa com amigos no El Cuartito comento pizza fugazzeta e bebendo Quilmes. O final de uma sequência de talvez mais de uma centena de vezes em que estive no país vizinho na maioria dos meses dos últimos seis anos. Perdi a neve histórica de Buenos Aires em julho de 2007. Ganhei o reveillon dois anos e meio depois em Puerto Madero.
Minha relação com os argentinos é a melhor possível, chegando ao cúmulo de meu sotaque em espanhol ser totalmente bonaerense, e após uma década de admiração seria natural que eu fizesse o mesmo que o governo brasileiro tem feito com relação ao recente enrijecimento da política externa argentina no que tange às Malvinas. O país vizinho volta a requerer a soberania das ilhas. De quebra, acaba colocando os países vizinhos em situação espinhosa. Eu sou terminantemente contra. Não chego a chamar as Malvinas de Falklands – seria afronta gratuita – mas que a questão está resolvida, é fato: as Malvinas não são argentinas, e nem deveriam ser. Mesmo eu era novo em 1982, então, recapitulemos: naquele ano, após séculos de discussões (embora os britânicos estivessem há mais tempo por lá, mesmo porque as ilhas foram descobertas e ocupadas antes mesmo de a Argentina deixar de ser colônia espanhola), a ditadura argentina resolveu invadir as ilhas e retomá-las(?) militarmente. A resposta do Reino Unido não tardou e após uma guerra curta mas sangrenta (morreram 255 soldados britânicos, 3 civis da ilha e 649 soldados argentinos), a Grã-Bretanha saiu vitoriosa. O General Galtieri tentou polarizar a coisa, mas como perdeu a guerra, acabou perdendo o governo e por fim a ditadura argentina, bem mais cruel que a brasileira (e que não contou com anistia nos moldes brasileiros, pelo contrário, levou ao banco dos réus os militares que cometeram abusos) caiu, dando lugar à democracia. Já a dama de ferro, Margareth Tatcher, garantiu a vitória do partido conservador nas eleições seguintes, e se saiu muito bem em casa, mesmo recaindo sobre sí na opinião pública internacional a ordem desproporcional de afundar o cruzador General Belgrano (metade das vítimas argentinas no conflito foram de marinheiros deste navio).
Pois bem, hoje, 30 anos depois do início da Guerra das Malvinas, a presidente Cristina Kirchner evoca mais uma vez sua nação em torno do tema. O governo brasileiro, como de praxe nos últimos anos, se posiciona do lado errado de novo (mesmo na época da guerra, foi neutro mas nem tanto, tendo ajudado aos argentinos. O Chile, por exemplo, se colocou contra a Argentina, e parte de lá, hoje, o único voo regular que serve às ilhas). O Uruguay já se colocou contra a Argentina, e mesmo os argentinos mais esclarecidos se colocam contra a presidente. Assim como Galtieri, Cristina tenta usar o patriotismo ferido da questão para colher dividendos de popularidade. Não está sozinha: numa manifestação que presenciei nesta última estada por lá, até cartazes de uma tal “Juventud Kirchnista” eu vi. Mas claro, a Argentina de hoje não tem o menor poderio militar e está descartada qualquer intervenção nas ilhas. De qualquer forma, Kirchner tem sempre uma surpresinha pros seus compatriotas. A última é restringir a importação de livros (vale ressaltar que 80% dos livros lidos por lá – a Argentina tem um mercado equivalente ao brasileiro – é importada). E o Brasil, por melhor relações que tenha com a Argentina, e por mais que queira manter as coisas assim, deve tomar uma decisão – e se eu puder dar minha opinião – contrária às invenções megalomaníacas de Cristina. Além de prejudiciais aos seu próprio povo, elas podem vir a desestabilizar toda a região. Já foi embaraçoso o suficiente ver Lula cultivar simpatias e mesmo amizades com Chávez, Morales, Assad, Kadafi e Armadinejad. Que escolhamos, nas mãos de Dilma, o lado certo dessa vez.
quarta-feira, fevereiro 29, 2012
A virada da maré
Como o novo momento da literatura brasileira é visto pela mídia e o que esperar para os próximos anos.
Em 2011, Veja já tinha dado sinal de estar antenada com o que andava acontecendo com o mercado editorial, ao falar dos jovens leitores e dos blogs literários, inclusive alguns que conhecemos há anos, como o da Íris Figueiredo. Agora, em 2012, num especial bastante farto, o foco são os autores que figuram entre os mais vendidos. Impossível não citar Marcelo Rossi – muito bem contextualizado na matéria – ou os autores de auto-ajuda como Augusto Cury, mas uma atenção especial é dada a autores bem mais próximos do nosso convívio, como Thalita, Vianco e Spohr.
A matéria destrincha os nichos em que eles atuam e ratifica o fato de que se vamos muito bem entre os autores brasileiros em espiritualidade, auto-ajuda e mesmo biografia e História, no ramo da ficção, a concorrência estrangeira ainda é forte. A matéria, por se focar em poucos autores, acaba não falando do grande número de lançamentos nacionais esperados para 2012, no auge de uma virada de maré que começou por volta de 2009. Seguido por outras iniciativas similares, o Novas Letras teve papel importante neste contexto, com sua quase meia centena de eventos por todo o país em livrarias, feiras e bienais, aproximando autores e leitores e quebrando fortemente o tão falado preconceito com autores nacionais. E se as editoras estão apostando em nós “como nunca antes na História deste país”, é porque provamos nas vendas, na qualidade e até nos prêmios que temos potencial. Diante disto, a revista puxa exemplarmente para si o papel de imprensa.
Com matérias como esta, Veja reafirma seu compromisso óbvio com um país de leitores, além de dar voz aos autores neste momento incrível pelo qual passamos. Em abril, a Feira do Livro de Bogotá terá o Brasil como país homenageado. Em 2013, é a vez da maior feira livreira do mundo dar atenção especial a nós, a Feira de Frankfurt. E na esteira das duas, vem Bologna em 2014 também destacando o Brasil. Será a nossa chance para inverter a posição atual de importador de títulos de ficção para exportadores neste mercado, uma vez que a literatura brasileira no exterior é quase inexistente e para o autor brasileiro, viver de direitos autorais vendendo só no Brasil é quase impossível – nosso mercado só está crescendo porque está muito defasado com relação ao tamanho que deveria ter.
Tomara que a revista Veja, assim como outros veículos, volte em breve a enfocar nestes temas, que apesar da apatia do Estado, estão se desenvolvendo graças a autores, editores, agentes literários e claro, os leitores. A mídia é catalizadora deste processo, e um país de leitores – e autores – será com certeza um país melhor.
quarta-feira, fevereiro 01, 2012
O mais corajoso John Green/The John Green's bravest book
Já seria muito corajoso de John Green narrar um livro em primeira pessoa sendo a protagonista uma menina de 17 anos. Mas não, John Green não se poupou de desafios e resolveu narrar o livro - e o mundo, a adolescência, o amor, a família - na pele de uma menina de 17 anos com câncer.
"TFioS" não é engenhoso como Katherines e Paper Towns, mas traz de novo o tema da perda abordado em Alaska, mas desta vez com muito mais vigor, e como sempre com passagens luminosas, pensamentos geniais, e a dose de realidade levada às últimas consequências. John Green se firma como o autor de YA books definitivo, e mestre que é na sua arte, nos leva ao riso, às lágrimas, e ao principal papel de um escritor: à reflexão.
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It would be very brave of John Green narrating a book in first person while the protagonist is a 17 years old girl. But no, John Green has spared no challenges and decided to narrate the book - and the world, adolescence, love, family - in the skin of a 17 years old girl, with cancer.
"TFioS" is not as clever as Katherines and Paper Towns, but brings back the theme of loss covered in Alaska, but this time with even more energy and, as usual, with bright passages, brilliant thoughts, and the dosis of reality taken to its last consequences. John Green stands as the ultimate YA books author, and as a master of his art, invite us to laughter, tears, and the main role of a writer: to reflection.
quinta-feira, janeiro 19, 2012
Um pequeno livro sobre um grande tema
No nosso dia-a-dia, é uma discussão infundada. Deus já está tão ausente na prática, que chega a ser curioso que as pessoas acreditem tanto nele. Não digo isso pelas coisas tristes que nos circundam, de desastres naturais a pequenas injustiças, passando evidentemente por todos os meandros da estupidez humana. Assim como não encontro Deus nestas desventuras, tampouco o vejo na bondade, na caridade e no amor, que nos fazem seres realmente interessantes. Tudo tem uma explicação mais simples. Carl Sagan, alguém que morreu antes que eu o conhecesse mas, graças à invenção da escrita, me passou um pouco de sua lucidez sempre dizia isso. Pode parecer, para os que crêem, que Deus é a explicação mais simples, e de fato ela basta à maioria das pessoas. Mas quando digo simples, digo lógica, racional. Não que para se chegar à conclusão simples, tenha sempre que se passar por fórmulas complicadas, como as que terminaram por elucidar - em seus formatos simples - as leis que regem nosso Universo, e com isso explicaram boa parte do que muitas pessoas chamariam de Deus. Se você ouvir um barulho suspeito na sua casa durante a madrugada, vai se assustar, achando que tem alguém lá, quem sabe até uma assombração. Mas é muito mais provável - e você sabe disso - que seja uma louça molhada escorregando na pia porque havia ficado precariamente equilibrada no escorredor, ou o vento que esteja assobiando pela janela, ou dependendo, até seu cachorro fazendo alguma investigação noturna debaixo do armário. Existe sempre uma explicação mais simples. Para não usar a palavra "aceitável".
Este livro não é escrito por um cientista, nem por um teólogo, nem por um filósofo. Mas por um jovem escritor, formado
Talvez por isso, porque minha vida tenha sido tranqüila, minha educação farta, meus mestres variados, tenha ficado mais fácil eu chegar às conclusões que cheguei. Não só tive tempo para isso, mas também os instrumentos que a fé cega dispensa, mas o conhecimento requintado exige. Nunca fui bem em matemática, seria um péssimo físico - como Einstein - matemático - como Newton - ou mesmo astrônomo - como Galileu. Porém, por mais que eu não entenda os cálculos que os levaram às descobertas que fizeram, eu percebo a lógica do que dizem. A curiosidade me faz chegar lá, e como eles preferiram a razão ao bom-senso (que são coisas diferentes), eles perceberam que o Universo não é do jeito que é para nos agradar. Na verdade, nós somos um acidente quase improvável, e fossem os valores das leis que regem a Natureza - da gravidade que prende planetas em suas órbitas até a carga negativa dos elétrons - um pouco diferente das que estes grandes pensadores provaram, e nós não estaríamos aqui para discutir o assunto. Isso, claro, nos induz ao erro. O Universo parece desenhado para nós, afinal não fosse como é, não existiríamos. Bom, não fosse como é, as rochas e a água também não existiriam, e isso não as faz rezar para ninguém. É do ser humano querer dar sentido às coisas, estabelecer relações causais. Nosso cérebro, forjado - gosto desse termo - pela seleção natural nas savanas da África cerca de 200 mil anos atrás, precisava disso. Andávamos em pequenos grupos, vimos que precisávamos um dos outros para caçar, para nos proteger do frio, da seca, às vezes até para nos proteger de outros grupos humanos que encontrássemos no caminho. Isso explica muitas coisas, e as descobertas da antropologia e geologia modernas só sustentam cada vez mais essa tese. Somos carentes por isso, gostamos de fofoca por isso, e damos sentido às coisas por isso. Era melhor achar que havia visto um tigre num vulto qualquer e depois descobrir o equívoco do que considerar que era apenas uma planta se mexendo com o vento e ser pego de surpresa. A Terra não tem 6 mil anos, como acreditam judeus, cristão e muçulmanos. Datações geológicas precisas mostram isso, até mesmo registros históricos egípcios e chineses provam que não. O dilúvio nunca existiu - e muito menos os dinossauros foram extintos por não caberem na arca. Tem gente que fala que répteis com nove metros de altura são uma fraude. Outros dizem que foram encontrados os restos da arca de Noé - que diga-se de passagem, estariam, pela lógica, no Himalaia, a mais alta cadeia de montanhas do planeta. No entanto, se você pergunta a um crente em Deus se ele acredita em fadas ou gnomos, a pessoa achará absurdo. Bom, tem gente que acredita em uns, em outros, e até nos dois. Por mais que nunca tenhamos visto Deus, fadas, ou gnomos. Você sabe que não viu. Você sabe que a auto-sugestão é poderosa. Você sabe que só porque escuta perfeitamente sua falecida avó falando com você nas suas lembranças, isso não significa que ela esteja mesmo viva falando com você desde o além. Tem muita gente que acha absurda a hipótese do Big Bang. Bom, porque ele aconteceu é um mistério - que o comportamento bizarro mas real das partículas subatômicas que foram criadas quase no momento da explosão estão cada dia mais próximas de justificar o que veio depois. Mas é razoavelmente certo que aconteceu. Podemos medir as distâncias no espaço, e sabemos que os incontáveis aglomerados de galáxias estão afastando-se um dos outros a sete mil quilômetros por segundo, o que indica claramente que já estiveram no mesmo lugar e são impulsionados por uma força inimaginável. Tivesse a Terra - e o Universo, segundo o Gênese bíblico - sido criada há menos de 10 mil anos, e nosso céu noturno seria bem mais sem graça. O próprio centro da Via-Láctea, a nossa galáxia, não seria visível, pois não existiria. Como a Terra está num obscuro canto da nossa galáxia a 30 mil anos luz do centro dela, sua luz não teria chegado ainda aqui, e toda as noites seríamos privados do espetáculo leitoso que parece atravessar o céu. As Escrituras mostram apenas um mundo parcamente revelado pela ciência infantil da época em que foram escritas. Por homens, seres humanos como você. Já acreditou-se que as estrelas estivessem coladas num domo, que chamamos de céu. Já acreditou-se que o sol girasse em torno da Terra. Já acreditou-se que a Terra fosse plana. Já acreditou-se que nós fôssemos o centro de alguma coisa, uma espécie divinamente criada especialmente por um Criador. Bom, nisso, muita gente ainda acredita. A existência de Deus é sim, como diz Dawkins, uma questão científica, e o escapismo de não misturar Ciência e religião é mais uma proteção da segunda contra a primeira. Só porque não provamos que Deus não existe, não significa que Ele exista. O contrário também. Mas ao longo do livro, você verá que "possível" e "provável" são palavras distintas e quase independentes. Eu joguei na loteria hoje. É possível que eu ganhe, mas não é provável. Amanhã, depois do sorteio, a verdade se revelará. Ou eu ganhei, ou não. Sem meio-termo. Falar sobre Deus é um pouco mais complicado, pois ainda não chegamos nas evidências que serviriam de sorteio da loteria, e talvez nunca cheguemos. Mas as evidência que temos até agora mostram que Ele não só foge bastante do que seja provável, mas beira já, mesmo com nossa ainda rudimentar Ciência, o impossível. Para muita gente, ainda é ridículo pensar que viemos do macaco. Bom, até para um biólogo sério a suposição é ridícula. Macacos e nós viemos de um ancestral comum, e apesar de estarmos separados já por milhões de anos de evolução, ainda assim, os chimpanzés demonstram sentimentos semelhantes aos humanos que vão de desejo sexual a afeto, passando por irritação, alegria, e também o alegado diferencial da nossa espécie: raciocínio. Mas se para você a observação não for suficiente para provar nada, não tem problema. A tecnologia da genética atual - a mesma que prova, inquestionavelmente, paternidades - mostra que 99,4% dos nossos genes ativos são idênticos aos destes simpáticos primatas. Se você aceitar que toda a vida na Terra evoluiu de um simples organismo unicelular, nos últimos 3,5 bilhões de anos, a semelhança vai deixar de parecer mera coincidência. E quem sabe, se a astronomia por ter valores absurdos e se a física quântica por ter comportamentos bizarros não o tenha convencido da nossa insignificância, a antropologia e a genética consigam dar-lhe a injeção de humildade com a qual todos os ateus foram vacinados. Este livro é o resultado de meses de pesquisa, muita discussão e um exercício de auto-conhecimento revelador. Eu mesmo me tornei mais convicto das minhas certezas, tanto mais eu tive de colocá-las à prova para defender minhas idéias nas linhas que você lerá, numa evolução evidente da clareza de pensamento do primeiro ao último capítulo. Agradeço demais a todos que acreditaram neste projeto, me ajudaram com suas posições contra e a favor da tese do livro, alguns citados aqui, outros apenas lembrados por seus pontos de vista. É um pequeno livro, mas sobre um grande tema. Espero sinceramente que você, leitor, fortaleça suas crenças ao lê-lo, seja concordando com meu ponto de vista, ou mostrando para si mesmo que o seu faz mais sentido. É essa dedicação ao nosso intelecto que vai salvar a Humanidade. Foi ela que nos salvou até aqui.