quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Caviar, um assunto delicioso!

Fazia tempo que eu tentavba encontrar tempo pra terminar de ler este adorável livro. É engraçado como às vezes grandes pérolas editoriais, garimpadas com carinho por seus editores, tornam-se verdadeiros fracassos editoriais. Acho que muitas pessoas não achariam interessante o assunto, mas eu lhes garanto: é. Embora goste muito mais de escrever ficção, minha leitura preferida é de não-ficção, recheada de pesquisa, com muitos dados pra eu encher minha cabecinha oca com matéria prima pros livros e papos que virão. Não sei como a Íntienseca se meteu nesta roubada comercial, mas se foi por amor a um texto bem escrito, denso e interessantíssimo, é uma honra ter sido um de seus leitores. Confira agora a resenha que fiz ontem à noite durante meu voo de passageiro pra Manaus, o mesmo voo aliás, que tem grande importância num outro livro ainda não publicado...

Um provável e injusto fracasso comercial, mas uma pérola editorial.

Eu juro, não sei onde Inga Saffron, repórter de um jornal da Filadélfia, estava com a cabeça quando resolveu lançar-se numa longa e obstinada pesquisa sobre o caviar e seu provedor, o esturjão. Ainda mais me espanta que a Editora Intrínseca, que nos trouxe sucessos relativamente óbvios como “Crepúsculo” e “A menina que roubava livros”, tenha em 2004 trazido para o Brasil e cuidadosamente editado o livro “Caviar – A estranha história e o futuro incerto da iguaria mais cobiçada do mundo”, quase um suicídio comercial premeditado. A terceira vítima inusitada desta trama sou eu, que embora tenha visto caviar poucas vezes na vida e nunca o tenha provado, me interessei magicamente por este livro, numa promoção à R$9,90, numa prateleira de supermercado, meses atrás.
O fato é que o trabalho de Inga foi simplesmente formidável, numa pesquisa que canso só de imaginar. Como correspondente de seu jornal em Moscou durante 4 anos, Inga foi até Astracã, um dos mais tradicionais redutos da indústria do caviar, e revolveu a poeira da estepe russa e as distantes margens do Mar Cáspio para nos trazer com ares de romancista um retrato do que se passa por lá. Nos Estados Unidos, sua terra natal, descobriu de produções inimagináveis em tempos passados a fazendas de aqüicultura moderna que prometem ser a salvação do peixe cuja ova fresca e salgada chamamos “caviar”. O esturjão, inclusive, por si só é interessantíssimo. Pouco mudou nos últimos 250 milhões de anos em que habita a Terra – é um fóssil vivo que já nadava nos leitos dos rios catando minhocas e crustáceos quando os dinossauros andavam pelo planeta – e com espécimes que chegavam a ter meia tonelada, aguçou os olhos dos humanos, que estão aqui a mil vezes menos tempo, mas são os juízes insensatos da sobrevivência de mais esta espécie.
Enfim, “Caviar” é um livro imperdível na tradução talentosa de Adalgisa Campos da Silva, completo para quem quer conhecer personagens impressionantes e reviravoltas inacreditáveis da história desta iguaria que, como bem lembra James Beard, numa citação usada no início do prólogo, “A ova da fêmea do esturjão russo provavelmente já assistiu a mais casos internacionais importantes do que todos os dignatários russos juntos.”
Que este peixe estranho e antigo não seja eternizado apenas nas páginas deste livro genial, que valeria por uma semana de National Geographic, mas que ele vença a extinção e continue escrevendo a sua história enquanto sublinha a nossa.

2 comentários:

  1. O pessoal da Intrínseca acaba de me dizer que o livro "Caviar" vendeu muito bem:-) Que bom, nosso mercado não está totalmente perdido!

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  2. Rafael, sou repórter do Diário do Grande ABC e gostaria de fazer uma entrevista com você sobre os novos autores nacionais. Desculpa deixar or ecado aqui, mas é que estou tentando contato com você das formas que consegui na internet. Grata Luciane Mediato
    lucianemediato@dgabc.com.br
    (11)4435-8350

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